sexta-feira, 10 de maio de 2013

Arrábida - Calhau dos Alhos (a.k.a. Parede Branca)

Numa Era em que ainda se protegiam quedas com tacos de pau entalados nas fendas das rochas, lá para os idos de Setembro de 1980 andou uma cordada a esgravatar uma bela linha na "Parede do Calhau dos Alhos". Parede branca de tons, com muros, diedros e tectos desafiantes, alcandorados a pique durante mais duma centena de metros virados ao mar.


 Tentativa de 1980. Paulo Alves nas panças do L1 foto: col. P.Alves


Paulo Alves e Carlos inauguraram com esta tentativa 2 primeiros lances, nesta respeitável falésia.
P. Alves regressa nos inícios dos anos 90 acompanhado de Francisco Silva, acrescentando mais um lance, porém, sucedem-se vários anos sem a boa conclusão de sair por cima.

 Paulo Alves abrindo no tecto-diedro do L2. foto: col. P.Alves



Carlos no L2. foto: col. P.Alves


A parede ainda viu mais uma ou outra tentativa de Paulo Roxo, e, recentemente, em cordada com João Gaspar surgiu a linha "cascawall" e com a Daniela Teixeira a via Rocha Podre e Pedra Dura. Linhas que acrescentaram valor e interesse à parede.
Aproveitando as poucas oportunidades invernais, o que subscreve junto com Nuno Pinheiro, desarmam, desde cima, três lances de muralha minada de lajes agro-precárias.
Após mais um pouco de trabalho de recuperação dos lances de baixo, esta via é finalmente ascendida completamente.
Eis, aqui um dos grandes itinerários da Arrábida com bom sabor aéreo. Uma proposta para dias frescos e de verdadeiro ambiente "de parede".  

Resultou o nome de Era velha para este traçado cobiçado desde há tantos anos e que liga escaladores de épocas diferentes num mesmo empreendimento.


Foto: J. Gaspar via P. Roxo, RPPD.

Breve descrição:

1º lance, 6b+, 20m: entrada paralela logo à direita da RPPD, atravessar à direita por baixo de umas panças corn flake, superar os ressaltes de tuvenan e brita  até à fissura vertical de #4, seguido de um piton. Logo acima desta passagem e directamente abaixo do tecto-diedro, montar reunião sem gastar friends medianos. Este lance protege-se inteiramente com friends e fitas largas. 2 tacos e um "angle" ferrugento completam a oferta museológica desta via. É o lance de rocha mais "suja". A partir daqui só pode melhorar.

2º Lance, 6a, 12m: Tecto-diedro de desfrute total. Por opção própria montamos a 2ª reunião à altura do spit, no final do tecto, já que, dado o estado da rocha que se segue, era o sítio mais abrigado da eventual queda de pedra. Proteção a gosto, com friends. Uns uns três tacos cravados de baixo para cima e o citado spit m10 da reunião, mostram como se fazia antes.

3º lance, 7a+, 25m: duas parte compõem este lance, um primeiro muro fissurado, com algum piton, passando ao lado da velha reunião original, em direcção a extraprumo difícil, com algumas delicadezas minerais. Saindo do extraprumo segue-se um piton no canal-diedro, fácil, até à reunião no final deste canal.

4º lance, 7a, 25m: saída com tendência à direita pelos tectos aéreos. Muro estético entrecortado de fissuras diagonais. Passagem da pança até à reunião da "figueirinha". Largo com o melhor ambiente de parede. Duas chapas, tudo resto fácilmente protegível com um jogo de friends.

5º lance, 6b, 15m: saída da reunião da "figueirinha" pela bavaresa fina. Entrar no muro cinzento e compacto, protegendo com algum microfriend e fissureiro pequeno. Reunião junto ao jardim suspenso. 3 chapas.

6º lance, 6c, 25m: saída pela fissura. Aos poucos metros quando esta fissura se torna mais terrosa, atravessar para a direita (chapa) e daqui enfrentando o muro, com algum passito mais técnico, com rocha mais delicada, em direção a uma fissura final. 3 chapas.

O Acesso a esta parede faz-se desde a serventia do Fojo. Em vez de tomar o carreiro de acesso às vias do Fojo, continua-se a descer o estradão até chegar a uma bifurcação deste caminho com um carreiro estreito mas bem definido, entre os arbustos frondosos, à esquerda.
Para referencia de orientação, iremos passar sempre à direita da arredondada colina do Fojo.
Seguir este carreiro até um cruzamento, continuando ainda em frente, agora em ligeira subida, até quase ao final do caminho que servia antigas extrações de pedra. Descer atravessando os depósitos de escórias destas pedreiras, até ao carreiro de pescadores descendente, que em vários e criativos lacetes, nos vai aproximando da base da parede. É um caminho longo mas compensa pela grande envolvente natural e "selvagem".

Alguns aspetos de estratégia para esta parede:

Época - O verão e qualquer dia com temperaturas acima dos 25º, à partida, não será nada recomendável.
Escolher dias frescos sem demasiado vento.
Consoante a época do ano, o Sol esconde-se para além da crista do píncaro à tarde, e na verdade , os cerca de 125 metros da via são exequíveis numa tarde sem pressas.

Material - 1 jogo de friends até #4, repetir do #0,75 ao #2 camalot ou equivalente, alguns fissureiros pequenos, semáforo de aliens, varios anéis de fita de 60cm (uns 6), 2 anéis de 120cm para reuniões; umas 10 expressos (4 para chapar o resto para prolongar). Os capacetes são imperativos para quem tiver alguma coisa a proteger.

A via não está preparada para rapelar (sem abandonar material) e cordas simples de 50 ou 60 podem não chegar para esse fim.  De qualquer forma a via segue algumas travessias que não facilitam a descida em rapel e a subida de retorno pelo trilho é penosa.

Se todos os membros da cordada ambicionarem o encadeamento ou uma jornada mais prazenteira recomenda-se rebocar a mochilita dos agasalhos, comida e bebida, com uma cordelete, caso contrário o 2º sofre que nem um cavalo, com o peso e volume.

As reuniões são suspensas do arnês, com agum apoio razoável de pés ou "encosto".

Para mais informação sobre esta parede: Blog RPPD

FP