terça-feira, 23 de setembro de 2008

Gruta dos morcegos (casa da Carochinha)

.
Em Julho último, depois de dar cabo da ratazana da cova do Fojo com umas quantas vassouradas e bombadas e para aproveitar a embalagem que essa via provoca nos costados, equipei com o Mike uma nova linha nessa gruta. A via percorre o tecto entre o “Passeio dos Deuses” e o “Tecto do João Ratão” e, como nessas vias, mantém-se a obrigatoriedade de cair de mãos a abanar, i.e., com o cordel justinho q.b..

O nome desta via apenas poderia ser um pois casa no fim (top) com o João Ratão. E, caros amiguinhos, nós bem sabemos quem é que casa com o João Ratão. Mas mais detalhes desta história da Carochinha podem encontrar-se no V-Duríssimo (senão já, brevemente).

O Croqui actualizado deste sector, situado 2 m a.s.l. e a 45 minutos da estrada, foi desenhado sobre uma fotografia de alta qualidade e encontra-se aí mais abaixo, no fim do postal. A via encontra-se com o grau interrogado porque na altura o rei da selva de pedra ainda não tinha passado por lá. Entretanto, o bombador/triturador/vincador implacável já deixou uma proposta de 8a+. Nota: Excepcionalmente, tivemos a sorte de apanhar nessa mesma foto o João Ratão a escalar a sua via. Na outra fotografia, esta já de muito menos qualidade, podem ver o Miguel (Miguelin) Loureiro lá pendurado.

Ah, é verdade e uma última nota. Tinha deixado 5 expresses nessa via e quando cheguei lá, três semanas depois, tive a agradável surpresa de terem roubado as duas expresses mais acessíveis. A surpresa é agradável pois é um sinal de que a comunidade de escaladores está finalmente a atingir uma dimensão considerável, ou seja, até já existem escaladores/trepadores filhos-da-puta. Este é mais um bom sinal, juntamente com as talhadas no granito, de que a escalada portuguesa se desenvolve a olhos vistos.




Um agradecimento ainda ao Hugo 50 que com três horas de sono se prontificou para ir comigo acabar de furar a via (ao contrário de um sorna que ficou a dormir depois de garantir que ia).


Por FCS

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Novo Fojo Novas Vias


Já há muito tempo que ouvia falar numa grande parede adjacente ao Fojo mas, tirando alguns relatos sobre tentativas frustradas de abrir vias, nada sabia de concreto acerca desta falésia. Era mais um caso de uma possibilidade do mítico “El dorado” português que faz parte do imaginário de qualquer equipador que, nesta terra, tem que caçar com gato ou fazer do gato-sapato.

Parece que no tempo em que os animais falavam o Emílio e o Gorjão já lá tinham tentado equipar umas vias na parte superior da parede mas foram traídos pela bateria. Por sua vez, o Roxo também tentou conquista-la vindo de baixo mas desistiu ao fim de alguns metros de rocha podre. O que, tratando-se de quem é, nos deixa a pensar em cascalheiras verticais e em entulhos periclitantes. Bastante mais tarde, o Francisco teve o sonho de abrir uma linha dura de alto abaixo mas, porque o mundo é grande, nunca passou da fase de reconhecimento com um rappel de 100m e um jumareio de 120m.

Eu, embora muito curioso de ver esta parede, acabei sempre por adiar o dia de lá ir. Talvez por preguiça, pois uma parede com mais de cem metros implica uma logística complicada e umas costas frescas (o que raramente me acontece).

Quando o Gaspar e o Loureiro se propuseram lá abrir uma via, acompanhei a aventura de perto, desejoso de poder escalar e ver que possibilidades haveriam para novas vias. No final de cada um dos muitos dias que esta dupla dedicou a esta empreitada, aka, obras de Santa Engrácia, eu ligava a melgar, pedindo novidades. Na primeira oportunidade fui conhecer as vias e fiquei motivado para explorar melhor a parte de cima da parede, sem dúvida a mais sólida e mais apelativa. Como quase sempre acontece, o sonho do “el dorado” desvaneceu-se e a crua realidade veio ao de cima: um ambiente fantástico sobre o mar mas uma parede sofrível com algumas linhas que pareciam sair interessantes.

Esta minha passagem pela parede foi há três meses atrás mas só na semana passada é que me decidi a ir lá equipar. Afinal, aquela parte superior da parede superou em muito as minhas expectativas, uma parede contínua em rocha de alta qualidade, com algumas chorreiras tipo Kalimnos e um alto ambiente “atlântico”, em suma, pouco potencial mas cinco estrelas.

Resultado: mais uma nova via de dois largos e outros dois largos com uma reunião comum. Destes largos, três já estão encadeados faltando a "Terra de Cegos" que ainda não está limpa pois foi equipada ao lusco-fusco. (As vias "Terra de Cegos" e "Profecias de Nostragramos" têm essa reunião comum três metros abaixo da "Vamos aos Ninhos" para ser possível rapelar sem roçamento de corda, esta reunião esta só com plaquetes e não tem maillons)





Acesso (plágio, roubado aos primeiros equipadores da parede): Rappel pelo topo da falésia. Deixar o carro no mesmo estacionamento do Fojo. A meio do caminho para o Fojo, virar à direita ao chegar às clareiras. Seguir no estradão em direcção a Oeste cerca de 1mn. Ao chegar a um cruzamento em forma de triângulo com arbustos rasteiros, virar em direcção ao mar. Andar 2 min. por um caminho de pé posto até ao topo da falésia (se estiver a arranhar demais, voltar atrás e procurar o caminho certo). É possível rapelar por qualquer uma das vias pois todas elas começam num género de varanda onde foi equipado um corrimão que une as várias vias. A parede só se encontra à sombra a partir das duas horas da tarde (pelo menos em Agosto/Setembro).

Por último tenho de agradecer ao Gaspar e ao Loureiro por terem deixado estas vias para eu equipar e à Diedro e Espaços Naturais pelos bons descontos em material.

Nuno Pinheiro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Baía do Terror – uma Realidade Separada

fotos: cortesia de M. Catita


Os costados Atlânticos mais selvagens da Roca, estão repletos de pequenos sectores com vias de desfrutar e de dificuldade variada.
A rocha, no geral, não sendo a mais compacta do mundo é suficientemente sólida para elevar as suas vias a uma categoria que tem tanto de bom como de desconhecido. Também os acessos não sendo dos mais curtos e fáceis, não oferecem dificuldades de maior aos visitantes habituais.

Não é o caso na Baía do Terror. Aqui o compromisso faz jus à fama. Um alcantilado profundo, com uma aura opressiva e ameaçadora, de aspecto caótico e frágil. Açoitado em pleno, pelas vagas ruidosas de Noroeste.

Esta reentrância monumental é covil da exposição, dos ressaltes abundantes, equipamento fixo escasso, frequentes troços de rocha instável e um assinalável ambiente aéreo capaz de alterar o funcionamento gástrico a mais de um.



Aqui a própria natureza trata de se esfoliar continuamente, sem precisar de recorrer à Corporación Litostética ou ao Dr. Talhon.

Na Baía do Terror precisamente, nasceu em Agosto, mais uma via de autoprotecção: “Realidade Separada”. Inicia-se numa rampa fácil que dá acesso a três largos novos: Um primeiro, proposto de 6b, que foi bastante laborioso de sanear e é algo delicado de proteger, repleto de salientes.

Em partes será algo como subir o perfil dentado de um serrote. Ao aproximar-se da reunião a rocha vai-se tornando mais instável.
A primeira reunião é montada entre blocos, num terraço, com entaladores ou friends medianos.

De acrescentar que é possível por meio de um longo troço de corda, aproveitar-se duma plaquete de reunião da via vizinha, para reforço das ancoragens.

Fotos cortesia de M.Catita


O segundo largo tem a melhor rocha desta Baía. Uma fissura que segue oblíqua para a esquerda, muito bem delineada e subprumada, para a qual se propõe 7b.

Foi afinal este chamativo troço de granito cor de ferrugem, com quase 15 metros, que inicialmente, captou a atenção. Calça aliens e algum friend mediano.
Levar friends para montar a R2 nos blocos, ao final da dita fenda.

Neste segundo lance convém proteger a gosto e qb para não se encontrar com o terraço da reunião, em caso de queda.


fotos cortesia de M.Catita

Finalmente, um largo de 6b, acessível mas algo exposto.
Sair pela direita, e seguindo pelo plano esquerdo do diedro que leva até ao cimo da falésia, superando algumas panças. Atenção aos meandros com a corda e à força com que se tracciona dos blocos.
Esta via acaba com um ressalte terroso até a um penedo onde se encontram as 2 únicas plaquetes instaladas em toda a via.

Daqui os cuidados ainda não acabaram. Há que sair (encordado se necessário) por uma rampa pronunciada de chorões, terra e pedra solta até à pendente que nos trouxe a esta baía.

No croqui que se disponibiliza, figuram também as outras duas vias conhecidas neste sítio: “Terror da Baía” e "Caracol aterrorizado", obras do braço armado do rppd.

Fotos F.Pereira

A aproximação desta Baía faz-se a partir do acesso normal à zona do Espinhaço, pela esplanada de estacionamento, descendo o carreiro até à travessia da linha de água.

Neste ponto, em vez de continuar pelo carreiro do Forte, seguir em frente, por um outro caminho algo indistinto, até a um colo. Daqui, olhando para baixo, vislumbra-se o rebordo superior da Baía do Terror.

A pendente é instável, à base de chorões, terra e pedras soltas e alguns ressaltes. Contornar os obstáculos com a atenção devida, buscando o caminho mais estável, visto que a pendente é forte e pode ser difícil corrigir algum desequilíbrio.

Ao se encontrar próximo do rebordo superior da Baía, buscar vestígios de passagem, contornando com a suficiente margem de distância, acima do rebordo e pela esquerda. Daí, em sentido descendente pronunciado até proximo do mar. Já se vão detectando traços de passagem dos pescadores. Destrepar uma rampa de rocha até à base da parede.


Todo este trajecto é exposto e exige capacidade de intuição do caminho menos arriscado considerando o peso adicional dos equipamentos pessoais.

Edição de última hora: existe uma linha de rapel pela rampa tombada da direita da Baía. Um primeiro rapel de 50m e um segundo de 30m levam-nos até à base da parede. Esta manobra pressupõe o uso de corda dupla ou da fixação de uma corda simples a recolher no fim da escalada (!). Informação cedida por P. Roxo.

por Fernando Pereira

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Agradecimentos

O SEA vem por este meio agradecer a generosa cedência dos berbequins que, nas mãos de raros escaladores experientes e munidos de alto bom-senso, possibilitaram o equipamento de muitas novas e boas vias. Deste modo, todo o SEA faz uma vénia aos mui grandes benfeitores e possuidores dessas máquinas, que sem olharem às mãos que as recebiam as emprestaram sem pensar duas vezes. Arrependimentos à parte, destacam-se aqui a antiga junta Francisco Ataíde-Tomás Om-Rui Toshiba e o Exmo sr. André Neres.
.
Aproveitamos a oportunidade para nos curvarmos também à pesada oferta de 200 pernos inox A4 (Gand'aço!) do escalador e mecenas dos equipadores desvalidos, Exmo Sr. Rui Gameiro.
.
Como magra retribuição a estes bem-intencionados patrocinadores oferecemos-lhes a entrada para sócio do SEA por uns bons e bem medidos 12 meses. E ainda o nome a "bold" dourado aqui na coluna da direita (sujeito à apreciação da alta autoridade do SEA).
.
Enquanto esperamos pela divulgação de novas vias resta-nos lembrar-vos que o nosso gabinete de apoio ao escalador (GAE) vítima de equipamentos está à vossa disposição. Este gabinete é composto por um experiente grupo e estará à disposição para resolver dúvidas relacionadas com:
  • Distância entre plaquetes
  • Escolha do local para a plaquete
  • Teoria e prática do furo perfeito
  • Tamanhos legais de martelos de equipador
  • Quando, como e onde nunca talhar nem picar
  • Ajuda psicológica e muito mais
Se és um recém-equipador e tens dúvidas precisas do GAE.