sábado, 12 de julho de 2008

“Ting! Ping! Ting! Bing! Ping! Ting!”

Martelada a martelada, o equipador como um ferreiro vai cravando o aço numa bigorna de pedra vertical. Na pedra bruta e informe, arranca linhas, força direcções, delimita o espaço. Equipar uma via é prender uma besta, pôr arreios de ferro a uma pedra selvagem, tirar-lhe a liberdade e torná-la doméstica. Ao traçar a via o equipador define os esforços e cansaços, os repousos e posições que os futuros escaladores irão experimentar. E cada chapa colocada é um antolho que nos fixa o olhar e nos dita o trajecto a seguir. Então, se por um lado, equipar uma via é abrir um caminho, por outro lado, é obrigar a seguir esse caminho. Por isso, a maior qualidade de um equipador é saber descobrir os caminhos naturais que estão invisíveis e percorrem as paredes e preservar, tanto quanto possível, a liberdade do escalador ao percorrê-lo.

Muita gente, obcecada pela segurança, define a qualidade dos equipamentos pela distância entre as chapas e por uma subjectiva tranquilidade mental (deixo para outro dia a defesa da tese que a essência da escalada é a intranquilidade, a dúvida, a incerteza e o medo). Mas um bom equipamento é quando descemos de uma via e nem sequer nos conseguimos lembrar de nenhuma protecção, apenas nos lembramos das presas, dos movimentos e das sensações. Idealmente, as chapas teriam apenas a função de estrelas a guiar-nos num mar de pedra… Mas como isso ainda não é possível toca a martelar!

“Ting! Ping! Ting! Bing! Ping! Ting!”

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